Tem sido assim. Cada vez mais. Os filmes, sempre eles, servindo de matriz para os meus dias. Eu tenho um problema. Na verdade, vários, mas o problema em questão é que eu quero sempre transformar acontecimentos convencionais em eventos cinematográficos, aquela velha história de "ter coisas pra contar". Mas isso cansa. E me deixa desapontada, quando eu não consigo. Hoje em dia me pego gostando cada vez menos dos documentários, pulando de cabeça num mundo ficções, de aventuras. De cabeça mesmo. Os coadjuvantes vem e vão, e eu gosto muito de contracenar. Uns vem e nem se vão. Ficam por aí, até que surja uma nova cena para eles estrelarem. É, passei a encarar os dias como se fossem cenas, as horas como se fossem takes, os momentos como se fossem quadros. E não é tão legal quanto parece. Já explico o porquê. É que assim eu acabo deixando passar despercebidos momentos não-cinematográficos, mas que, nem por isso deixam de ser bonitos. Pra quê ficar forçando? Um simples beijo é substituído por um amasso na mais torrencial das chuvas, numa parada de ônibus aleatória. Enfim, é uma pressão infinita, pra extrair de todo e qualquer momento o mais intenso dos sentimentos. Cansativo. Suspeito que isso seja culpa das músicas, da abordagem que eu uso nos meus relatos, desse super-realismo-exagerado. (Beeshop)